Sombra Vermelha
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Sombra Vermelha
Mais um dia mais uma noite cheia deles e eu não aguentava mais. Precisava esfriar minha mente e meu corpo eu tava com medo e isso era tudo que não precisava. A noite fria me dava àquela sensação de que lá estava eu sozinha mais uma vez e ele mais uma noite dessas, não mais apareceu. Deus! Teria ele descoberto tudo e não viria mais até mim? Era o que não queria eu só o queria ali como todas as noites em meses atrás. Ninguém sabia que ele adentrava aquele tipo de lugar, mas ele estava ali para mim por minha causa. Ainda lembro-me de como a neve era linda em contrastes com seus lindos cabelos e olhos negros, aquele dia sim levaria para todo o sempre. Teria ele me perdoado? Voltaria?Me escutaria?
Perguntas que invadem sua mente e sua vida e ficam lá por dias e dias dormindo e te acordando e quando nota, está neurótica. Era eu exatamente assim pensando nele e no que tinha feito. Como pedir perdão a quem mais sofreu no resultado de tudo o que fiz? Entenderia ele a causa do meu feito? Ele precisava sumir daquele jeito?
Eu achava que não.
-- Está linda Lenna, mas está na hora de subir no palco. Brandon disse aparecendo na porta do meu pequeno camarim que ficava no fundo das coxias.
-- E lá vou eu. Eu falei levantado e seguindo para o palco.
No caminho eu tentei arrumar meu espartilho e parei para ajustar o salto alto em meus pés e foi quando naquele momento entre as cortinas velhas sujas e pesadas do bar que senti um perfume conhecido.
-- Lenna o que espera? Brandon perguntou me olhando e eu fiquei ali parada lembrando onde tinha sentindo aquele perfume.
-- Esse perfume... Disse cheirando a cortina e vi que por ali já estavam passando alguns senhores que apreciaria nosso show.
-- Temos muitos homens hoje a casa tá cheia. Agora vamos, Cely ainda precisa se apresentar. Ultimamente parece que dança pensando. Ele disse vindo até mim e me arrastando para o palco.
Era isso eu me apresentava em casas noturnas duas vezes na semana e era assim que eu ganhava a vida para poder sobreviver, mas um dia eu vivi ao lado de um rei.
-- Espere a banda de George terminar esse pré-show horrendo. Bradon disse colocando seu braço no meu ombro enquanto estávamos atrás na coxia observando o movimento do lugar.
-- Ele tem talento. Eu disse olhando alguns senhores importantes sentarem e abrir de um jeito delicado os botões de seus paletós caros e fortemente perfumados.
Mas minha mente só estava em um lugar... Nele.
Quando aqui em Londres estava dizia ele que tinha sido a melhor parte de sua vida e era sempre a mesma conversa depois que nos amávamos e ficávamos olhando o teto dos lindos hotéis em que ele se hospedava. Ele gostava de conversar baixinho e tranquilo como se o mundo lá fora parasse só para nós dois viver o nosso momento e ter alguém para ouvi-lo era o que ele mais queria naqueles dias.
Alguns o obrigavam a voltar e ele dizia que ainda tinha trabalho ali, mas a verdade era que eles não me aceitariam e ele dizia que eu era o seu mais novo e perigoso segredo e assim eu só o amava por me amar da maneira mais doce que tinha me amado até então.
Ah... Aqueles dias.
Não imaginava que apenas lhe dar uma informação de como achar uma rua qualquer me fizera me encontrar com o príncipe da minha vida, rei para alguns. Depois daquela conversa eu fora do carro e ele em uma linda limosine preta e luxuosa tudo em minha vida teve cor sabor e prazer e não só por que ele era quem era, mas porque ele era apenas o que sempre tinha procurado em um homem e assim me prendi a ele para todo o sempre e eu guardava isso em meus pensamentos mais profundos.
-- Lenna o que há com você? Brandon cochichou lá na frente apontando o palco para mim.
Eu sai correndo e peguei do canto do palco a minha cartola que fazia parte do meu figurino. Eu arrastei a cadeira para perto do ferro que ficava bem no centro do palco e perguntei em silencio de Brandon se estava tudo certo em mim como roupa, maquiagem e sorriso. Ele fez um sinal de ok e eu balancei a cabeça em positivo tentando me concentrar, sorte, aquele dia não tinha chorado escondida de todos, meu rosto estaria mais belo para o show. Coloquei meu cabelo para o lado ao ombro e coloquei minhas duas mãos na cadeira deixando minhas pernas distantes uma da outra e era aí que o show começava.
-- Música? Cochichou novamente Brandon no fundo do palco antes das cortinas levantarem.
-- Faixa nove, In The Back! Eu falei mordendo os lábios e fechando meus olhos com força tentando ver o rosto dele novamente em meus pensamentos.
Aquela noite eu não tinha que sair correndo antes de tudo acabar.
As cortinas levantaram e eu estava ali no meio do palco só com um foco de luz apenas em mim e foi quando ouvi alguns aplausos de inicio. Diziam os meninos do bar que eu era a preferida do prefeito e isso nos rendia muito até. Então, que o show fosse o melhor.
Junto com a música e sua essência já sexy, eu comei meu show que para muitos era srtip tease para mim era o meu show e era a forma como eu sabia me expressa e ganhar por isso, então, você poderia me ver dançar todas as segundas e quintas no bar Red Lights nas ruas mais secretas de Londres.
Devagar eu tirei minha cartola virando bem lentamente para minha plateia composta por homens apenas e desci minhas mãos para pernas ficando em uma pose sensual para quem assistia. A música já tinha ouvido com ele e foi a primeira vez que fiz uma dança sensual para ele em segredo. Aquela noite em seu quarto de hotel era tudo ainda profissional e ele queria apenas ver como era ter uma mulher dançando para ele apenas e essa música escolhemos juntos e sorrimos com aquilo. A verdade é que sempre fui fã, disse a ele e ainda posso sentir o ar quente que veio de sua boca quando sorriu com a minha confissão quando ele me olhava de pertinho.
-- Boa escolha garota. Disse ele escondendo o sorriso de mim virando a o rosto.
Ainda lembrava do som calmo e excitante que vinha da sua voz e foi quando chutei a cadeira virando-me de costas e abaixando todo meu tronco quase até o chão a ponto de tocar minha cabeça ao chão e devagar, me inclinei para um perna e desci toda a minha meia calça e naquela posição até desconfortante fiz o mesmo com o outro lado. Encostei meu corpo no ferro quando o foco de luz ficou exatamente no meu rosto apenas e abri meus olhos lentamente arrancando de mim as luvas longas e todas as luzes apagaram-se.
“Why you stab me in the back?”
Aquela parte da musica sempre me fazia lagrimar e sabia que a canção não era algo tão triste assim, melancólico talvez, mas não era de fazer ninguém chorar. Eu apertei meus olhos para não chorar de novo e quando as luzes voltaram em mim e coloquei minhas mãos no fecho do meu sutiã todo bordado com pedras que brilhavam e aquilo dava uma ótima visão para os que me assistiam, e quando a música repetiu novamente a frase que ele perguntava por que o tinham o apunhalado pelas costas, eu brinquei com a imaginação de todos ali.
Joguei meus cabelos para frente e rapidamente levantei minha cabeça já abrindo meu sutiã e virando de costas na mesma velocidade e o joguei para a plateia. Eu podia ouvir seus suspiros onde estava e na parte em que a luz ficava vermelha sobre mim eu deslizei pelo ferro calmamente aguentando-me apenas com as pernas e fingia pra eles estar sentindo um prazer que tinha tido um dia, mas não mais, nunca mais.
Quando uma mulher descobrisse que certas expressões em seu rosto poderiam fazer um homem tremer, ela teria o homem que quisesse.
E lembrei:
-- Você possui uma mágica sem igual. E beijou-me a costa.
Sorrindo na cama com lindos lençóis brancos tão perfumados, eu disse:
-- Você sempre fala das mulheres com tanta paixão senhor? Perguntei virando-me para ele e o vi me observando atento e com seus olhos semi fechados, apenas ali deitado sem roupa como eu.
-- Estou falando de você apenas Lenna.
E no momento em que ele falou aquilo senti meu corpo todo arrepiar e sabia que jamais esqueceria do timbre da sua voz e da expressão de puro desejo em seu rosto acompanhada com seus olhos profundos tal como um tubarão faminto. Eles brilhavam como se fossem um abismo que você queria se jogar e se esbaldar.
As luzes acenderam-se e estava perto do fim e seguindo aquele som lento e calmo do refrão da música eu terminava o meu show, mas foi quando eu olhei para todos ali e de maneira torturante para mim sorrir para quem pegou meu sutiã, eu pude ver um homem em pé quase impedido do foco de luz avermelhado refletisse em mim. Sua sombra estava em meu corpo quase nu ali e não conseguia mais acompanhar meu show. Eu apenas parei.
-- Gracinha eu peguei sua peça, não teria eu direito de uma dança em minha mesa ou aqui em meu colo? O homem elegante de cabelo levemente grisalho perguntou de mim enquanto eu ainda olhava para lá, para onde o aquele homem alto e magro estava.
Eu voltei meus olhos ao senhor que tinha meu sutiã em mãos e indo ao chão do palco, comecei a engatinhar como felina o olhando fixamente e alguns vibraram com o que estava por vir. Só que ainda a sombra do homem estava lá.
Podia sentir meu coração nas mãos e fazia um barulho estrondoso no peito. Tentando me concentrar no show eu desci devagar do palco e pisando no chão de carpete vermelho da boate caminhei tapando meus seios para dar alma ao show, claro eu tinha adesivos neles. E quando cheguei perto do homem elegante notei que o homem da sombra tinha sentado e estava perto da mesa 7 e então sentei no colo do homem.
Eu o toquei conforme sempre fazia em meus shows e querendo ser breve por que a música se ia eu o beijei no rosto e o deixei tocar na minha cintura e ele se mostrou para alguns amigos sorrindo e me abraçando como se fossemos amigos há anos, mas na verdade ele era o dono de um outro bar que vinha só para me ver e era sua preferida como tinha notado, acho que ele se casaria então.
E a música acabou.
-- Você foi demais querida. O homem disse pegando em minha mão e me mostrando para toda a casa que agora, estava com a luz acesa.
Eu me inclinei em sua frente tal como uma reverencia e sorrindo agradeci a gentileza.
-- Espero que tenham gostado senhores? Disse um pouco alto olhando para todos ali e rapidamente olhei o homem da sombra que estava de chapéu e ele não me parecia confortável.
Em assobios e aplausos meus secretos fãs me parabenizavam e jogavam dinheiro e seus cartões eu fingi achar aquilo engraçado enquanto o homem elegante ainda me e mostrava como troféu para os seus ali, e foi quando o homem de chapéu lá longe levantou-se e me olhou fixamente.
Vendo aquilo tive a certeza que era ele.
-- É você! Eu disse ficando sem ação.
Ele abaixou sua cabeça e deixou uma nota de dinheiro na mesa e me olhou novamente, ele estava pagando pelo show?
As luzes enfraqueciam novamente para Cely entrar em seguida e eu sai correndo entre as diversas mesas e fui até ele. Ele virou-se e saiu caminhando e pude ver alguns homens seguir atrás dele e foi quanto tive a certeza que era ele, eu conhecia Will, seu segurança.
-- Espere, por favor! Eu disse pulando os pequenos degraus da boate e então, consegui tocar em seu braço.
E foi quando meu coração e minha respiração pararam por completo. Ele virou-se para mim bem devagar como câmera lenta e quando vi seu rosto lindo alvo com aqueles olhos penetrante e brilhosos tive a certeza que era o meu amor.
-- Você apareceu finalmente, fique me deixe explicar. Eu disse chegando mais perto dele e ele se afastou de mim em um passo.
Ele me olhou com tanto desprezo que automaticamente cobri meus seus e me senti a mais horrível de todas. Ele não parecia ser real ali, mas tinha o mesmo perfume e me causava arrepios e aquela emoção.
-- Não quer ouvir o que tenho pra dizer? Perguntei olhando o nos olhos e foi quando ele tirou seu chapéu e pude vê-lo melhor...
Tão lindo.
-- Tudo que podia esperar de você, você me deu. Como pude ser tão tolo Lenna? Ele disse com sua voz embargada e com seus olhos lacrimais como se estivesse aguentando suas próprias lagrimas.
As minhas caíram pelo meu rosto levando mostrando a ele meu arrependimento.
-- Precisava do dinheiro e não queria que soubesse disso. Não podia me perdoa eu fui honesta com você. Se eu não contasse que foi eu quem disse tudo aquilo nunca saberia. Estou profundamente arrependida. Eu falei limpando minhas lagrimas e o vendo me encarar sem piscar.
-- Somente eu e você sabíamos os lugares que fomos ninguém mais, mas agora não importa sua atitude para me revelar a verdade não foi por mim que confessou foi por conta da sua consciência e suas desculpas já não me servem, uma vez que está tudo vendido e para os mais sujos. Ele disse se virando e saindo da minha frente.
-- Me perdoe por trair sua confiança Michael! Eu disse segurando seu braço novamente e ele não virou para mim.
Mas eu vi que suspirou profundamente antes de falar novamente.
-- Não só a confiança, mas o meu coração e o que sentia por você.
Disse ele tirando seu braço bruscamente da minha mão e foi seguindo colocando seu chapéu enquanto aqueles homens olhavam para mim e o levavam para longe.
-- Fique bem!
Ele disse antes de sair pela porta e eu não acreditava no que tinha acontecido.
Eu me encostei na parede e não conseguia controlar a minha vontade de chorar. Derramei as lágrimas mais amargas da minha vida e fiquei ali no canto até Brandon me achar em soluços constantes. Nunca pensei que poderia o ferir tanto e que os sonhos não fossem reais para sempre. Eu tive em minhas mãos em meus braços em meu corpo e alma e o trai por tão pouco.
Meus dias foram os mesmos até um certo tempo, mas não havia mais perguntas sem respostas é que elas tinham sido respondidas alguns anos atrás com a última visita dele. Será que ele se assustaria em saber em que me tornei?
-- E quanto custa este? Um rapaz gentil perguntou a mim enquanto estava por trás do balcão.
-- Esse é o meu mais precioso quadro se chama “Sombra Vermelha”. Eu disse passando os dedos na minha própria pintura da dama que eu tinha pintado e logo mais no fundo do quadro aquela sombra que eu via todas as noites em meus sonhos.
-- Um srtip tease e esse homem ao fundo está olhando para ela? Perguntou ele intrigado.
-- Sim, ela dançava enquanto ele a observava e sua sombra ficou na mente dela essa sombra vermelha que cai sobre ela. Disse olhando para o quadro e notei que o rapaz ficou calado.
-- É belíssimo, muito belíssimo. Disse ele ainda olhando para o quadro como bobo.
-- Obrigada. Disse voltando para o balcão e escondia mais uma vez dentro de mim a inspiração que me tinha levado a fazê-lo.
Tantas pessoas passaram por mim durante alguns anos e o meu quadro o que eu considerava o mais lindo continuou ali comigo. Ninguém o comprava não sabia por que, mas eu até que ficava feliz por ele nunca sair de perto de mim. E naquele natal fechei a loja de quadros mais cedo e antes que eu pudesse desligar as luzes, alguém ainda estava por ali.
-- Senhorita já está fechando? Perguntou o homem alto de terno e cabelo bem arrumado.
-- Sim, abrirei novamente amanhã a partir das nove. Disse tentando o olhar direito, a neve caia com força.
-- Ah, é que vim comprar um quadro meu patrão o viu dias atrás e desejava ele. Ainda tenho chance de comprá-lo hoje? Ele perguntou protegendo-se da neve.
Eu o olhei atenta e o achei familiar, olhei para a rua sem carros a passar só com a neve a cair e voltei a olhar minha loja quase fechada. E pensei que poderia ser o momento de glória para aquele quadro que tanto me trazia lembranças boas como lembranças tristes. E por que não?
-- Quem sabe é hora de se desfazer de tudo isso? Eu disse baixinho abrindo a porta.
O rapaz não disse nada e como eu previa ele foi diretamente para meu quadro Sombra Vermelha e o comprou. Eu não acreditava que estava o vendendo depois de dois anos ali desde que tinha saído do Red Lights não imaginaria que o venderei assim tão fácil.
-- Eu colocarei mais uma camada de esponjas para não o quebrar. Eu disse exagerando novamente no cuidado com meus quadros, eu amava o que fazia.
-- Tudo bem senhora de fato meu patrão é bem exigente. Ele disse aos sorrisos e eu retribui sorrindo também.
Dei a ele o quadro e uma tristeza veio em meu ser. Estava se indo a única coisa que ainda em matéria tinha da lembrança de viver com Michael Jackson por alguns meses inesquecíveis. Eu tinha errado de uma forma tão irreparável que evitava pra mim mesma de saber algo sobre ele. Tolice minha aquele dia que dei informações de nós dois e vendi aquela história digna de tabloide inglês e guardava comigo a consequência de agir por impulso e sem pensar.
Ultima vez que ouvi seu nome na TV era sobre sua turnê HIStory como chamava e pude ver então o quão lindo ele estava e ainda tinha aqueles olhos penetrantes. Deus, daria tudo para vê-lo mais uma vez.
-- Senhorita sente-se bem? O rapaz perguntou me fazendo acordar das lembranças.
-- Perfeitamente. Disse limpando meu rosto, uma lagrima estava ali e eu queria me livrar delas.
E se foi.
Tentei por diversas vezes fazer uma replica e guardar comigo, mas não consegui. Eu chorava e ficava escondida no canto da parede de minha casa como eu sempre fazia quando lembrava da burrice que tinha feito. Eu jamais deveria ter o perdido daquela forma. E a dor, era a minha companheira ao passar dos anos.
O tempo era cruel e não parava e mesmo que as tardes frias de Londres em mais um inverno e fim de ano fossem diferentes dos anos passados, os flocos de neve que caiam pelo meu jardim ainda eram branquinhos e os mesmos que me faziam lembrar do contraste negro de seus cabelos e olhos.
-- Correspondência senhora Keys! O menino do correio disse trazendo pessoalmente as cartas.
-- Obrigada garoto e veja estou sem nenhum chá para lhe dar hoje está frio sei disso. Eu disse pegando a carta de cor creme e notando que tinha um carimbo diferente.
-- Não tem problemas senhora eu ainda vou amar vir aqui tomar seus chás e ouvir suas historias. Disse ele já me dando tchau.
-- Só você para gostar dessa chata velha cheia de historia romântica. Falei ao mais alto que podia, a saúde não mais permitia gritos e exageros.
-- Pois eu adoraria fazer um livro delas senhora Keys, até mais. Ele disse dando tchau e seguindo com sua bicicleta na rua.
Imaginei aquilo e sorri, o que pensaria Jack se ainda estivesse ao meu lado?
Eu era a viúva do fim da rua 29 e assim era a historia da minha vida depois de ter ele em meus dias juvenis. Pensando naquilo devagar sentei em minha cadeira de balanço e coloquei a cesta de costura ao chão e analisei com mais atenção a carta. A família de Jack nunca gostara de mim por que seus irmãos já haviam dito anos atrás o que eu era antes de me casar com ele. Ah, aquele estupido preconceito.
Mas dentro de mim ainda havia certas lembranças e algumas já tinham se ido. Mas eu sabia o que tinha feito na juventude e o que tinha feito depois de tudo aquilo. Eu era uma senhora idosa com os segredos mais incríveis comparados as outras senhoras do clube do livro, aquele clube do livro idiota.
Só que aquele selo era diferente e eu não sabia identificá-lo e só tinha o meu endereço e nada mais. Eu abri a carta e foi quando senti o cheiro e eu não pude acreditar no aroma que sentia aquilo não estava acontecendo!
Meu mundo parecia voltar anos atrás e meu coração já fraco saltitou vivo dentro do peito.
-- Esse perfume... Disse sem aguentar a emoção e olhei para os lados e para a rua e não havia ninguém.
Levantei com os olhos vertendo lagrimas e com as mãos tremulas e velhas tirei o que tinha dentro. Era uma carta e algo dobrado preso com fita adesiva. Eu desdobrei a carta e uma letra quase ilegível estava ali, e comecei a ler.
“Posso ter escapado de coisas tão ruins que a vida nos faz passar, mas posso dizer que vivi as piores que podia suportar. E nem nem nós dois fomos poupadas. Lembro de você todos os dias da minha vida e assim será até o meu ultimo. O que está nessa tela é para sempre garota.
Fique bem...
Com amor, Michael.”
O que lembro claramente foi que me faltou ar no momento em que terminei de ler aquelas palavras e muito emocionada abri o que estava dobrado com fita em volta e quando tive certeza do que era não contive o choro alto e cheios de saudades. Tentei tapar minha boca para quem ninguém me ouvisse chorar ali fora, mas aquilo era algo que só a emoção que eu sentia podia explicar o quanto era importante.
A Sombra Vermelha quadro que tinha pintado o primeiro deles estava ali cortada com apenas a tela dobrada e parecia estar guardada há anos. Desnorteada eu abracei a tela e a carta junto ao peito e caminhei pelo meu jardim sentindo aquele perfume forte e cada vez mais forte.
Ele estava ali ou havia estado.
Notei que o aroma ficara mais forte ainda e foi quando corri pisando em minhas tulipas negras que procurei por ele em desespero.
-- Sei que está aí apareça! Eu disse ainda caminhando até a rua.
Mas só o silencio e a neve caindo estavam ali.
Eu fechei meus olhos chorando como uma criança tola me encostei na cerca branca que havia pintando no ultimo verão. Sentei no chão escorregando devagar e continuei ali por minutos abraçando a mim mesma.
-- Estou aqui meu querido bem aqui Michael. Eu disse abaixando minha cabeça tentando controlar o frio, mas a minha casa e as escadas estavam tão longe.
E naquele momento tudo passou diante dos meus olhos. O primeiro dia em que o vi dentro de seu carro, o primeiro beijo que ele roubou de mim depois de me olhar com aqueles olhos profundos e sutis ao mesmo tempo perigosos e misteriosos, a primeira vez que o deixei me amar tão perfeitamente que ainda sonhava toda noite com a nossa primeira vez, a primeira dança que fiz pra ele... E aquela mania linda e única que ele tinha de amanhecer cantando e riscando minha costa com a ponta de seus dedos.
Tudo ... Tudo se passou pela minha cabeça e só queria que o tempo voltasse.
-- Mamãe? Mamãe o que faz aí? Eu ouvi longe a voz de minha filha mais nova, Karen.
Levantei minha cabeça e a vi acocada na minha frente.
-- Está congelando mamãe o que pensa que está fazendo? Ela disse preocupada já me levantando.
Eu amassei a carta em meus punhos e escondi minhas mãos em meu casaco não a deixando ver a tela de pintura. Ela me levou para dentro e me aqueceu os pés e me deu chá e perguntava de mim todo o tempo por que eu não falava nada e só chorava. Eu não podia, não podia dizer que eu não havia amado seu pai completamente e que só existia um homem em minha vida.
Eles não precisavam saber ninguém precisava saber.
-- Está mais quente agora você me assustou senhora Keys. Karem disse me beijando a mão e foi sentar-se a frente da lareira.
Eu sorri lembrando de como Michael tinha aquele belo sorriso pela manhã e disse:
-- Eu tenho o fim de uma das historias que sempre te contei. Eu falei aguentando a emoção na minha voz.
-- Aquela da moça que conhece um rei? Perguntou ela virando para mim sorridente pela euforia que seria de ouvir o termino da sua historia favorita.
-- Sim, lembro-me como acaba. Eu falei apontando para o sofá ao meu lado e que ela se sentasse pertinho de mim.
Ela levantou-se feliz e descansou sua cabeça em meu ombro como sempre fazia. E então, eu contei.
“E no fim quando muitos invernos caíram sobre eles e ambos sem se ver, o rei mandara a bela pintura que a dama havia feito para ele para que nunca a esquecesse. Ele a tinha guardado todos aqueles anos e disse que a dama estava em seus pensamentos todos os dias de sua vida solitária. Com lagrimas nos olhos, a dama disse em silencio que sempre o amaria e sentindo seu cheiro no ar o seu doce e inebriante perfume, sabia que ele em algum lugar a observava e a ouviria, por que ele sempre estava por perto... E sempre estaria...
Como uma sombra uma sombra que a cobria, de cor vermelha como o amor que ambos sempre e eternamente sentiriam."
~Fim~
Inspirado na música In The Back de Michael Jackson.
Por Mila
Última edição por Mila em Ter 15 Abr 2014 - 14:20, editado 1 vez(es)
Mila- Mensagens : 5790
Reputação : 317
Data de inscrição : 14/09/2010
Re: Sombra Vermelha
Ai Mila que lindo conto, chorei aqui chorei mesmo, amei do inicio ao fim tudo muito perfeito amei.
Re: Sombra Vermelha
Obrigada flor feliz que tenha gostado ePaaty Jackson escreveu:Ai Mila que lindo conto, chorei aqui chorei mesmo, amei do inicio ao fim tudo muito perfeito amei.
eu chorei escrevendo ele sei lá pq
srsrsr... ^^
Mila- Mensagens : 5790
Reputação : 317
Data de inscrição : 14/09/2010
Re: Sombra Vermelha
Suas linhas sempre nos tocando no mais fundo do coração
Eu ainda não tinha visto esse por aqui, simplesmente amei. Perfeito do início ao fim.
Já disse, mas repito: você escreve de uma forma única. As sensações que nos transmite, a forma como você dispõe as palavras... É incrível.
Obrigada por compartilhar mais uma de suas maravilhas conosco flor
Eu ainda não tinha visto esse por aqui, simplesmente amei. Perfeito do início ao fim.
Já disse, mas repito: você escreve de uma forma única. As sensações que nos transmite, a forma como você dispõe as palavras... É incrível.
Obrigada por compartilhar mais uma de suas maravilhas conosco flor
Nai Jackson- Mensagens : 4095
Reputação : 340
Data de inscrição : 02/09/2010
Idade : 28
Localização : Bahia
Re: Sombra Vermelha
Nai Jackson escreveu:Suas linhas sempre nos tocando no mais fundo do coração
Eu ainda não tinha visto esse por aqui, simplesmente amei. Perfeito do início ao fim.
Já disse, mas repito: você escreve de uma forma única. As sensações que nos transmite, a forma como você dispõe as palavras... É incrível.
Obrigada por compartilhar mais uma de suas maravilhas conosco flor
Oh meu anjo obrigada por isso flor. Eu quando ouvi pela primeira vez a música fiquei louca e logo
esse conto me veio a mente rsrs obrigada por sempre acreditar em meus posts e linhas. Isso significa
muito e vindo de uma excelente escritora, aí que me sinto mesmo muito bem
Obrigada pelo carinho Nai ILY
Mila- Mensagens : 5790
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Data de inscrição : 14/09/2010
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